quinta-feira, 31 de maio de 2007

O diabo loiro

Yuro poderia ter sido o presidente da república. Condecorado e renomado, se não fosse o diabo loiro travestida num corpete vermelho , que lhe sufocavam os seios de agonia, meio a uma confusão no ano de 1989.
Homem maduro e de boas idéias, guerrilha no Uruguai e um currículo com anos de revolução. Meio russo, meio polonês e um pé mulato no Brasil, o jornalista, escritor e boêmio por opção, Yuro Vverh Jacobowitz apaixonou-se por uma loira nariguda, americana da Virginia do sul ( sem falar nos seios fartos agonizando no corpete afogueado) em pleno 9 de novembro de 1989.
Enquanto a confusão da derrubada do muro de Berlim estremecia o chão do mundo, Yuro lançava um olhar carente sob Alexandra Katharina Boher. Dentro de alguns instantes desmoronaria seu muro de amor junto aos vários anos de luta armada.
Casaram-se sem cerimônia (Igreja, padre e sermões não combinariam com um noivo comunista e o busto abundante da moça). Yuro vendeu suas idéias a escritores decadentes, fez fortuna no anonimato e tomado pela embriaguez daquele amor insano baniu-se (o próprio) dos detalhes da história e da literatura ( Nem, condecorado, nem renomado).
Anos casados, Yuro acomodou-se a vida sedentária e pitoresca da vida no campo. Tornou-se comerciante, como o convinha, e exigiu uma penca de filhos da mulher.
Alexandra, por sua vez, trepou quantas vezes necessárias até o quinto filho homem parir.Quando já não lhe havia razão para continuar com aquele cotidiano enfadonho,a esposa ( seu seios inutilizados, apresentavam a barbárie de cinco bocas ávidas) largou os filhos e o marido (barrigudo,velho e impotente) , por Helena uma feminista oprimida de bigodes ralo e ancas largas.
por Tainá Falcão

terça-feira, 29 de maio de 2007

Sobre a nostalgia do amor

Sopra o vento, as rosas no jardim.
Leva consigo mil suspiros,
Ância da revolução, a vontade de sair do ócio.
Expandir o eco. Além do que se esconde por trás do mar.
Um cheiro de raiz buscando memórias,
São estas miseráveis e esquecidas.
Em vão o desejo de tornar-se imortal.
Amaram-se sem pressa.
No entrelaço das virtudes e saliências
Na audácia dos prazeres inconscientes.
Ela,calou-se com a cidade.
Ele,sem revidar,esperou a última lágrima tocar o peito e perguntou-se:
Era triste?
Jamais,nenhuma contestação.
por Tainá Falcão

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Pela tela, pela janela.

As árvores de Brasília me lembram as árvores da China, sem eu nunca ter estado lá.
O céu da capital, quando noite, não anoitece e mais me parece o céu da Inglaterra, um céu que desconheço.
Os prédios de Brasília me encantam por seus formatos alinhados, suas janelas planas e o colorido ainda vivo dos anos 80.
Parece-me um tanto democrático, o empilhamento de suas janelas. Todas abertas a um só ângulo, de frente ao trânsito, abaixo do céu (nem azulinho, nem azulão), de olho nas árvores belas da china.
Sei que, meio a tanto contra-tempo, se passando à vista de nossas varandas, a vontade é de observar tudo do lado de dentro, espichado em uma janela ou sentado em uma poltrona. Ora, mas se vejo tudo do lado de dentro de meu apartamento, começo a pensar que tudo me parece um quadrado. Um céu quadrado, um carro quadrado, um homem enquadrado. Sob a minha visão, vejo o mundo sempre na mesma proporção. Nem mais, nem menos. Assim, meu mundo está sempre pequeno, encaixado em uma janela.
E se eu quiser ir ao lago Paranoá? À alvorada? À ponte JK? Acredito que terei que despencar-me janela abaixo. agora, não daria. estou cheia de preguiça. Pensando bem, vou deixar de lenga-lenga e voltar a outra janela, uma do tipo moderna, uma tela colorida onde vejo o que quero e escuto sem muita atenção sobre uma cidade sem muita identidade ( de céu nem claro nem escuro, árvores da China e janelas planas), um lugar chamado solidão.
Certo dia, me perdi nos espaços vagos desta cidade e deparei-me com prédios de mil andares. Prédios de mármore e janelas que não carregavam um colorido velho de décadas atrás. Eram janelas espelhadas de um vidro vistoso,mas, nem por isso eram belos. Eram várias, tantas que nem me lembro. Janelas de cima abaixo, por todos os lados. Irritei-me veemente com o que via em frente a mim, era uma construção que nunca vi, uma nova invenção com belos azuleijos e uma velha esguichada na varanda.
Logo, perguntei-me: Como pode haver janelas lá no fundo? A quem os moradores olharão? Olharão as janelas alheias? O tédio entre uma casa e outra? Mas, e as árvores da China e o céu inglês? Agora, já me parecem que estão longe, bem distantes de mim. Entre minha janela sempre plana e a velha esguichada na nova construção, vejo que não há tanta diferença. Estamos sempre a procura de um só lado, não importa se do esquerdo, do direito, de frente ou detrás. Tudo me parece enquadrado, um imenso quadrado.
Vou em busca de alguém que me diga, por favor, aonde estão as passeatas e a política, o banho de sol no lago. Quero ver a história ao vivo e a cores, não mais na poltrona de minha sala. Não quero mais ver apenas o céu de Londres ou as árvores da China, quero conhecer gente do Sul, do Rio e do Nordeste, dançar maracatu, comer acarajé e tomar chimarrão. Visitar o presidente, contar como anda a nossa gente e quem sabe, conhecer Ariano Suassuna.
Agora, sei que tudo fora do quadrado é mais bonito e mais vivo. Não volto hoje para casa, sem descobrir as tribos de índios pataxós, sem ouvir Vinícius de Morais. Quero saber se meu Brasil é maior do que as favelas do Rio de Janeiro, a sujeira do Congresso e a seca do Nordeste. Se é maior que a melancolia da velha esguichada no castelo de vidro, a nostalgia de Brasília, do que a nova novela das oito.
por Tainá Falcão

domingo, 27 de maio de 2007

Amaralina que nunca foi Cloé.

A vontade era de enxotá-lo rua à fora.
Definitivamente Amaralina não era Cloé.
Assim como tenho certeza de que Eva não era a costela de Adão.
Em um dia cinzento de chuva e trovões, Amaralina sorriu apressada, num golpe terno de amor caiu aos pés de João.
No apartamento frio, encontrava-se Cloé e suas veias pulsando de ódio.
-“Todo canalha é magro!” (já dizia Nelson Rodrigues), gritava a estridente Cloé.
Cloé que não era bela, nem seu hálito cheirava a flores, por ordem do destino entregou sua solidão nas mãos de joão.
João ama Amaralina e dorme com Cloé.
- Teu corpo ofegante, tomado pelo calor sujo daquela vadia! Aquela vaca! –balbuciava Cloé.
A razão de tanto espetáculo é que, certo dia, João, meio a uma febre pecaminosa dos corações adúlteros, passou a dormir com Amaralina e a adorar Cloé.
- Dois anos é mesmo o suficiente. Não o amo mais, ao menos não desejo amá-lo. Lamuriava Cloé. Então, partiu-se.
De todo modo, João percebeu que Amaralina e seu hálito de lírios é quem ficara. Agora que também se deitava com a mulher, pensava (sem muito rancor) : Definitivamente, Amaralina não era Cloé.
por Tainá Falcão

sábado, 26 de maio de 2007

Introduzindo

A delicadeza de como se deve entregar-se à escrita, é o que levo em consideração. As palavras saem desesperadas, umas por cima das outras, em um atropelamento de sílabas pavoroso. O embolado de letras torna-se um balé jamais ensaiado. Meus pensamentos voam sob um universo onde tudo é permitido. Não me prendo a patéticos versos decorados, pois, detesto a mesmice dos atos sincronizados. Quero que o que escrevo seja transparente a mim mesma e que não precise subjulgar-me ao conservadorismo de linhas pomposas e hipocrisias gritantes.
No que escrevo, necessito apenas da honestidade. Na sinceridade escancarada, encontro o refúgio para todos os anseios. Que as angustias diárias do ser humano, seja este medíocre ou sonhador, faça parte do enredo de meus contos. Que parte do sofrimento da autora, possa ser refletido em uma feminista frustrada ou uma sensível descabida. Em um amante da boemia, um nordestino cheio de coragem, uma bailarina sem prestígio, uma atriz sem público.
A maneira como se escreve, não é ato de discussão e formalidades. Não pretendo que toda minha loucura seja compreendida. É preciso que se leia de cima à baixo, de um lado ao outro, da frente ao verso, para que se entenda que meus conflitos descritos jamais serão entendidos da maneira como desejo. O primeiro sentimento que transborda quando se deseja berrar ao mundo uma dor sufocante ou uma alegria delirante dentro de si. É intocável. É o estado das coisas como realmente são. Assim, prefiro que o aqui escrevo seja feito a revelia e a meu gosto, que não agrade a este ou aquele,que seja lixo ou poesia aos olhos de quem lê.
por Tainá Falcão