- Eu já disse que vou... - respondeu Penélope ao revirar os olhos.
Tinha presa entre os dedos uma mecha de cabelo. Escutava com paciência a voz amorosa do outro lado da linha. Sorria nervosa e forjava interesse nas palavras do pretendente.
Bocejou. Esticou-se para olhar as horas no relógio da cozinha e lembrou que estava atrasada para a sessão de terapia.
Dessa vez, não era desculpa para livrar-se de uma conversa desinteressante. Penélope realmente iria à análise. Várias vezes faltou as aulas de ballet e espanhol. Mas nunca deixou de ir as sessões de terapia.
Desligou o telefone antes de qualquer convite indesejado. Aquele rapaz era apenas um passa-tempo. Disso, tinha certeza. Mesmo que fosse injusto definir assim alguém que lhe guardava algumas horas do dia. Não poderia ser o contrário, Penélope era uma sincera assumida. Não me interpretem mal. Penélope não era uma mulher amarga, embora preferisse a verdade. O menino do outro lado da linha - esse que não merece descrições - era uma distração para Penélope, que não gostava do tédio absoluto. A voz mansa do rapaz a alegrava. Passavam horas divagando sobre política e crimes de primeira página do caderno policial de algum jornal popular. Ela gostava de inventar histórias sobre a vida dos assassinos de sangue frio. Dizia que alguns eram bem casados e rezavam o terço com a sogra em missas de domingo. Outros eram amados acima da crueldade que exalavam até mesmo no cheiro do suor. O menino do outro lado da linha ouvia atentamente e , por vezes, intervia. Dizia que criminoso de capa de jornal tinha que apanhar muito. E que se fosse dele a filha que "aquele monstro" violentara, não pensaria duas vezes, deixaria o criminoso indefeso: "primeiro as orelhas, depois os olhos..."
Tinha presa entre os dedos uma mecha de cabelo. Escutava com paciência a voz amorosa do outro lado da linha. Sorria nervosa e forjava interesse nas palavras do pretendente.
Bocejou. Esticou-se para olhar as horas no relógio da cozinha e lembrou que estava atrasada para a sessão de terapia.
Dessa vez, não era desculpa para livrar-se de uma conversa desinteressante. Penélope realmente iria à análise. Várias vezes faltou as aulas de ballet e espanhol. Mas nunca deixou de ir as sessões de terapia.
Desligou o telefone antes de qualquer convite indesejado. Aquele rapaz era apenas um passa-tempo. Disso, tinha certeza. Mesmo que fosse injusto definir assim alguém que lhe guardava algumas horas do dia. Não poderia ser o contrário, Penélope era uma sincera assumida. Não me interpretem mal. Penélope não era uma mulher amarga, embora preferisse a verdade. O menino do outro lado da linha - esse que não merece descrições - era uma distração para Penélope, que não gostava do tédio absoluto. A voz mansa do rapaz a alegrava. Passavam horas divagando sobre política e crimes de primeira página do caderno policial de algum jornal popular. Ela gostava de inventar histórias sobre a vida dos assassinos de sangue frio. Dizia que alguns eram bem casados e rezavam o terço com a sogra em missas de domingo. Outros eram amados acima da crueldade que exalavam até mesmo no cheiro do suor. O menino do outro lado da linha ouvia atentamente e , por vezes, intervia. Dizia que criminoso de capa de jornal tinha que apanhar muito. E que se fosse dele a filha que "aquele monstro" violentara, não pensaria duas vezes, deixaria o criminoso indefeso: "primeiro as orelhas, depois os olhos..."
Penélope interrompia e fingia concordar: "Eu faria pior! Por isso, prefiro nem dizer o que faria". E era verdade, Penélope era incapaz de matar uma mosca. Quando pequena, as pernas eram cobertas de feridas. Jura que nunca sufocou um mosquito na mão. Tinha pena. Assim como olhar nos olhos dos assassinos que eram expostos no programa policial lhe causavam aperto no peito. Sentia vontade de chorar. Mas segurava as lágrimas para não parecer irracional.
Chegou atrasada na análise. A psicóloga a aguardava em pé, encostada na porta. Laura recebia Penélope com a caridade de uma mãe. Ela lhe oferecia um abraço apertado e um pedaço de chocolate. Penélope preferia os lenços umidecidos com cheiro de rosas. Era ansiosa. As mãos suavam.
Chegou atrasada na análise. A psicóloga a aguardava em pé, encostada na porta. Laura recebia Penélope com a caridade de uma mãe. Ela lhe oferecia um abraço apertado e um pedaço de chocolate. Penélope preferia os lenços umidecidos com cheiro de rosas. Era ansiosa. As mãos suavam.
- Vai bem? Perguntou Laura à Penélope.
- Sim.
- E aqueles medos?
- Agora penso em viver.
- Como?
- É penso na vida. Eu olho meu pai, aquele homem e os cabelos brancos que ele colecina... .
- Saiu do hospital?
- Sim. Saiu do hospital. A médica lhe perguntou se preferia morrer a parar de fumar. Ele disse que ficaria com a segunda opção. Meu pai é um homem forte... quero ser igual a ele.
- Sua mãe também é forte?
- Mais do que imaginava. Mas deveria entregar-se com boa vontade à vida.
- Como?
O telefone tocou. Pediu desculpas a Laura e correu às gargalhadas. Subiu as escadas do prédio antigos às pressas. Ele estava lá. A porta já estava aberta. Ele estava no corredor, com os braços estirados e lhe oferecia um abraço. Não era um abraço de mãe. Era um abraço apertado de saudade seguido de um longo suspiro.
- Não achei que viria.
- Eu também não. Respondeu Penélope que não era acostumada com a impulsão.
Sempre foi racional. Mas tinha escolhido a vida. Tinha escolhido ser sincera com o mundo. O homem que a aguardava na porta de casa era o escolhido. Aquele que considerava o "Karma", o amante eterno, o homem da vida dela. Sem descolarem os corpos que já suavam de ansiedade e calor, entraram no apartamento. Ajoelharam-se no chão. Ele oferecia o corpo á Penélope, que logo aceitou o peso do amado.
- Desabotoa... - susurrou Penélope e deitou.
2 comentários:
Tainá Penélope Falcão...
Freddy Charlson
PS.: Sempre passarei por aqui... Ou, pelo menos, vez ou outra...
boas escolhas.
espero que penélope não perca suas convicções ao entregar o mais caro deslumbre de paixão a qualquer tolo.
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