domingo, 15 de março de 2009

Os versos de Penélope

A voz inconfundível de Maysa no rádio implora por vezes "Ne me quitte pas, ne me quitte pas, ne me quitte pas". Sempre que escuta a canção, Penélope procura acompanhá-la com a tradução para o português, o que torna a letra ainda mais intimista e originalmente triste como a melodia.

Te oferecerei
Pérolas de chuva
Vindas de países
Onde nunca chove;
Escavarei a terra
Até depois da morte,
Para cobrir teu corpo
Com ouro, com luzes.
Criarei um país
Onde o amor será rei,
Onde o amor será lei
E você a rainha.

Esse é o trecho favorito de Penélope. Fazia-a refletir sobre o amor e o poder de encantamento imposto pelo sentimento. Para Penélope, a verdadeira essência do amor tornava os homens simplesmente amantes. O tempo não existiria, nem haveria razão para justificar-se por erros tolos. Em ebulição, o amor a tudo se permitia. E era na música de Jacques Brel que Penélope enxergava a lucidez do amor, a capacidade de tornar os amantes inconseqüentes, teimosos como crianças.

Eles - os amantes - querem o impossível. Querem se entregar ao objeto do amor e sentirem-se especiais em um mundo de semelhantes. Os amantes acreditam que não se trata de escolhas. Os homens devem estar preparados para a chegada do sentimento. A intensidade do amor é maior que as horas, os anos, as datas de aniversário do romance. O amor é sempre uma surpresa. Não é metódico. Não devemos ensaiá-lo. O amor é para ser vivido como se apresenta no primeiro momento. Não devemos questioná-lo, nem tentar moldá-lo ao nosso gosto. É como deve ser. O amor se molda nas circunstâncias do romance, não temos domínio sobre o sentimento. Inquestionável, o amor é tal como é. Vivê-lo e não confundir-se com ele. O amor é independente. Não o confunda com o objeto do amor. O amor é eterno. Deixa-nos marcas... O amor não se afasta de nós, está em nós. Vivê-lo é fundamental.
A água do café já borbulhava na panela. Penélope acordou. Levantou-se, desligou o rádio e gargalhou dos versos que se fizeram na mente durante o sono. Apagou o fogo e desistiu do café. Era hora de dormir.

3 comentários:

Eduardo Ferreira disse...

tenho uma estranha análise que até hoje tem dado muito certo, compreendemos um relacionamento com o seu fim.

a versão em PB de sua expressão sofrida de Jacques Brel me apaixou a primeira vista... vejo o passado um pouco assim, cores vivas em tato e ausente na vista e sempre passional.

demais esse texto

Diego Fonseca disse...

Muito bom.

Ian Mendes Ferraz disse...

muito legal essa parte do amor

mas difícil de por em prática! só vivendo...