terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Felina

O vento soprava forte e levantava a areia da praia que se espalhava pelo ar como confetes de carnaval que abençoavam os pares bêbados em noites de revelia. De repente, a gargalhada histérica de Bruna rasgava o silêncio velado pelo mar calmo e a brisa quase escassa da praia. Rodrigo parecia petrificado quando Bruna inclinava-se para trás, varrendo a areia com os cabelos longos, escancarando a boca, mostrando-lhes todos os dentes. Aquela cena lhe causava calafrios. Os olhos seguiam o movimento da boca da menina. Era como se aquela atitude imperceptivelmente ousada tornasse os amigos mais próximos, quase íntimos. No fundo Rodrigo olhava a boca de Bruna e desejava o sexo da mulher. A boca que se abria sem pormenores e interrompia o silêncio que se exigia para um fim de tarde em que amantes se abraçavam em frente ao pôr-do-sol e um mar que se esforçava para não fazer barulho, na verdade, remetia não apenas ao sexo de Bruna, mas a uma intimidade intocável. Para Rodrigo, se tratava de uma intimidade bruta que precisava ser compreendida, desmistificada. O sexo para o rapaz não era o mais importante. Algumas vezes, Rodrigo havia visto a amiga nua em pêlos definida por uma beleza que se encontra na corda bamba da castidade e do selvagem. Ora Bruna aparecia tão meiga quanto sua irmã doze anos mais nova, outras vezes, Bruna abria a boca e entoava uma risada histérica que soava como a música mais tocada nos ouvidos do melhor amigo. O riso causava calafrios em Rodrigo que temia perder aquela cena de vista algum dia e, por isso, calava-se com a brisa quase escassa da praia.

5 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Calo-me com a brisa escassa da praia, pois tenho uma mulher entalada na minha garganta, que não só me silencia como me cega ao cobrir minhas vistas com seu encanto de sereia que serpenteia do mar para a areia. Não quero perdê-la de vista, nem calar meus sentimentos. Que já não suporto mais esse sufoco. Beijo, Ed.

Unknown disse...

Adorei felina,pois mostra a cada dia que passa seu amadurecimento literario.vc esta uma verdadeira NELSON RODRIGUES de saia.ficaria feliz em pegar em minhas maos um livro da sua autoria.quando vou ver?

Eduardo Ferreira disse...

rs... desejos instantâneos de quem é o compartilhar de vidas, ô brunas de nossos deslizes.

Unknown disse...

Livro para pegar nas mãos. Também quero!