As janelas entreabertas permitiam que do quarto se ouvisse o amor acanhado dos pássaros. No banco da praça, a mãe ninava o filho pequeno e parecia lhe contar um segredo quando encostava os lábios ternamente no rosto da criança, beijando-lhe a face com cuidado. Na cama, os lençóis amarrotados testemunhavam o fervor da noite passada. Os lençóis que ontem se enrolaram entre pernas e abraços, agora, descansavam, calavam-se diante do choro tímido de Layla.
Ela vestia uma camiseta branca, aparentemente, grande para seu corpo miúdo que se encolhia na cadeira numa tentativa de sufocar a dor. Layla segurava um papel amassado em que as palavras já manchadas pelas lágrimas pareciam lhe esbofetear a cara. Sem os rodeios de um jovem inseguro, no bilhete, Valentim dizia que a noite havia sido maravilhosa, disse também, que adorava as pernas curtas da mulher enroscando sua cintura feito uma cobra. O homem confessou que, muitas vezes, no café da rua de baixo, onde se viram pela primeira vez, excitava-se apenas de sentir o perfume da mulher. Ele dizia que suas mãos eram objeto de desejo, tudo o que um homem poderia querer quando deslizavam em suas costas e - de supetão – os dedos cravavam as unhas na carne, nos músculos.
As cortinas voavam como que agoniadas com a tristeza daquela cena, tentavam chamar a atenção de Layla para a rua, para o amor dos pássaros, a mãe que ninava o filho, velhos de olhares de angustia, bêbados e famintos que assustavam madames de laquê no cabelo. Na noite anterior, Layla vestiu-se de vermelho. Deixou que os cabelos pesassem sob os ombros e treinou, durante todo o dia, o que deveria ser dito ao homem amado, após cinco anos de separação. Enquanto acendia as velas, pensava em como o tempo poderia ser inacreditável. Quando conheceu Valentim, Layla acreditou piamente ter encontrado o homem de sua vida. Quando os dedos longos do rapaz acariciavam seus cabelos e perdiam-se entre as mechas que se assanhavam, o corpo de Layla se excitava por inteiro. Ela respirava profundamente, como se agradecesse a Deus por lhe ter trazido a felicidade. Layla pensava em como eram infelizes as pessoas que nunca tiveram um grande amor, ou apenas naquelas que o deixaram escapar. Pensava naquilo com certo lamento e fazia o sinal da cruz, para que jamais perdesse Valentim de vista. Queria estar com aquele homem para o resto de seus dias.
Com os anos, até o cheiro excitante do perfume de Layla tornou-se um afronto. Valentim andou estranho por pelo menos dois meses antes do fim da relação. No desespero, a mulher ameaçava Valentim com palavras. Dizia que, se era a vontade dele, que então evitasse perdas maiores e fosse homem o suficiente para terminar com toda aquela cena. No entanto, instantes depois, como uma criança com um espinho cravado no dedo, berrava de dor. Pedia-lhes desculpas e dizia que era mesmo uma tola, que as palavras saíram em vão. Admitia estar desesperada, mostrava-lhe sua fraqueza, seu medo de perdê-lo. Valentim apenas a olhava. Com certa compaixão, Valentim encostava a cabeça de Layla em seu peito e esperava que a mulher adormecesse.
Em pouco tempo, tornaram-se estranhos na mesma casa. Layla já não mais lutava contra o desdém de Valentim, que quase não era mais visto em casa. Em uma manhã de domingo, Valentim juntou as poucas roupas que ainda restavam no armário e partiu. Quando voltou do trabalho, Layla desesperou-se com o vazio que encontrou. Trancou o guarda-roupa a chave, como que para preservar o cheiro do homem amado.
Cinco anos se passaram e os ex-amantes se encontraram-se no café da rua de baixo. Quase não se reconheceram. Ela estava com os cabelos longos e os lábios vivos, cobertos por um batom vermelho. Como um jovem de vinte e poucos anos, aquele homem de cabelos grisalhos, tremeu tanto que derrubou café quente nas calças. Layla percebeu o cheiro de Valentim. Sorria elegantemente para os senhores de mais idade que a cumprimentavam como a uma filha, mas, no fundo se arrepiavam com o decalque da silhueta da moça. Enquanto passeava os olhos entre os velhos, Layla encontrou Valentim acanhado no fundo do café. Aproximou-se, mas não teve coragem de cumprimentá-lo. Virou-se bruscamente e seguiu para fora da loja. Ele correu para alcançá-la, segurou-lhe na cintura e já perto dos lábios, susurrou seu nome: Lay...la. Nem mais um minuto, beijaram-se fervorosamente. Subiram as escadas do prédio de Layla e ainda que tentasse, Valentim não conseguia desgrudar as mãos do busto da mulher. Correram para o quarto, caíram na cama e fizeram amor até adormecerem. Antes de escrever-lhe o recado, Valentim pensou em ficar alguns dias a mais – pois no íntimo ainda sabia que estava enfeitiçado. Pensou em confessar-lhe que estava apaixonado, mas, que era casado e provavelmente, a esposa junto as duas filhas o esperavam ansiosamete em casa, onde preparavam seu doce preferido, como que para provar o quanto aquele homem era amado. Pensou, pensou, pensou. Tirou a caneta do bolso, apanhou um pedaço de papel rasgado e escreveu o que lhe deu na telha. Olhou-a da porta do quarto e pensou que foi um homem de sorte. Sem fraquejar, novamente, Valentim partiu.
Ela vestia uma camiseta branca, aparentemente, grande para seu corpo miúdo que se encolhia na cadeira numa tentativa de sufocar a dor. Layla segurava um papel amassado em que as palavras já manchadas pelas lágrimas pareciam lhe esbofetear a cara. Sem os rodeios de um jovem inseguro, no bilhete, Valentim dizia que a noite havia sido maravilhosa, disse também, que adorava as pernas curtas da mulher enroscando sua cintura feito uma cobra. O homem confessou que, muitas vezes, no café da rua de baixo, onde se viram pela primeira vez, excitava-se apenas de sentir o perfume da mulher. Ele dizia que suas mãos eram objeto de desejo, tudo o que um homem poderia querer quando deslizavam em suas costas e - de supetão – os dedos cravavam as unhas na carne, nos músculos.
As cortinas voavam como que agoniadas com a tristeza daquela cena, tentavam chamar a atenção de Layla para a rua, para o amor dos pássaros, a mãe que ninava o filho, velhos de olhares de angustia, bêbados e famintos que assustavam madames de laquê no cabelo. Na noite anterior, Layla vestiu-se de vermelho. Deixou que os cabelos pesassem sob os ombros e treinou, durante todo o dia, o que deveria ser dito ao homem amado, após cinco anos de separação. Enquanto acendia as velas, pensava em como o tempo poderia ser inacreditável. Quando conheceu Valentim, Layla acreditou piamente ter encontrado o homem de sua vida. Quando os dedos longos do rapaz acariciavam seus cabelos e perdiam-se entre as mechas que se assanhavam, o corpo de Layla se excitava por inteiro. Ela respirava profundamente, como se agradecesse a Deus por lhe ter trazido a felicidade. Layla pensava em como eram infelizes as pessoas que nunca tiveram um grande amor, ou apenas naquelas que o deixaram escapar. Pensava naquilo com certo lamento e fazia o sinal da cruz, para que jamais perdesse Valentim de vista. Queria estar com aquele homem para o resto de seus dias.
Com os anos, até o cheiro excitante do perfume de Layla tornou-se um afronto. Valentim andou estranho por pelo menos dois meses antes do fim da relação. No desespero, a mulher ameaçava Valentim com palavras. Dizia que, se era a vontade dele, que então evitasse perdas maiores e fosse homem o suficiente para terminar com toda aquela cena. No entanto, instantes depois, como uma criança com um espinho cravado no dedo, berrava de dor. Pedia-lhes desculpas e dizia que era mesmo uma tola, que as palavras saíram em vão. Admitia estar desesperada, mostrava-lhe sua fraqueza, seu medo de perdê-lo. Valentim apenas a olhava. Com certa compaixão, Valentim encostava a cabeça de Layla em seu peito e esperava que a mulher adormecesse.
Em pouco tempo, tornaram-se estranhos na mesma casa. Layla já não mais lutava contra o desdém de Valentim, que quase não era mais visto em casa. Em uma manhã de domingo, Valentim juntou as poucas roupas que ainda restavam no armário e partiu. Quando voltou do trabalho, Layla desesperou-se com o vazio que encontrou. Trancou o guarda-roupa a chave, como que para preservar o cheiro do homem amado.
Cinco anos se passaram e os ex-amantes se encontraram-se no café da rua de baixo. Quase não se reconheceram. Ela estava com os cabelos longos e os lábios vivos, cobertos por um batom vermelho. Como um jovem de vinte e poucos anos, aquele homem de cabelos grisalhos, tremeu tanto que derrubou café quente nas calças. Layla percebeu o cheiro de Valentim. Sorria elegantemente para os senhores de mais idade que a cumprimentavam como a uma filha, mas, no fundo se arrepiavam com o decalque da silhueta da moça. Enquanto passeava os olhos entre os velhos, Layla encontrou Valentim acanhado no fundo do café. Aproximou-se, mas não teve coragem de cumprimentá-lo. Virou-se bruscamente e seguiu para fora da loja. Ele correu para alcançá-la, segurou-lhe na cintura e já perto dos lábios, susurrou seu nome: Lay...la. Nem mais um minuto, beijaram-se fervorosamente. Subiram as escadas do prédio de Layla e ainda que tentasse, Valentim não conseguia desgrudar as mãos do busto da mulher. Correram para o quarto, caíram na cama e fizeram amor até adormecerem. Antes de escrever-lhe o recado, Valentim pensou em ficar alguns dias a mais – pois no íntimo ainda sabia que estava enfeitiçado. Pensou em confessar-lhe que estava apaixonado, mas, que era casado e provavelmente, a esposa junto as duas filhas o esperavam ansiosamete em casa, onde preparavam seu doce preferido, como que para provar o quanto aquele homem era amado. Pensou, pensou, pensou. Tirou a caneta do bolso, apanhou um pedaço de papel rasgado e escreveu o que lhe deu na telha. Olhou-a da porta do quarto e pensou que foi um homem de sorte. Sem fraquejar, novamente, Valentim partiu.
5 comentários:
assustadoramente próximo da realidade de qualquer pessoa, espero que não seja o reflexo de nenhum futuro próximo.
muito forte
Belíssimo. Vc consegue elaborar umas construções que surpreendem. O chamado da cortina, o amor dos pássaros, o bilhete esbofeteador... Sempre dramática, sempre com amores impossíveis. De onde vem tanta vida, de onde sai tanta vivência? Será que restou alguma rosa no jardim? Parabéns, beijo.
Vc escreve bem Tainá. Descreve bem. Sempre uma oraão intercalada no meio de outra oração. Bastantes adjetivos. Dá pra bater o olho e saber que se trata de um texto seu. Creio que a forma a qual escrevemos é invariável, as nossas palavras é o nosso ser positivado na folha, e isso não há como variar, é como nossas digitais. Mas as personagens há sim como se variar, já vi inúmeros textos seus neste estilo uma moça gostande de um cara e se dando mal ao final... Não precisa ter sempre esse enredo. Beijo.
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