terça-feira, 29 de julho de 2008

Vontades iguais, desejos contrários

Era uma tarde de sol quente. O suor que escorria no corpo da menina corrompia a inocência da virgem. A praia estava quase deserta. Um barraco feito da palha seca da palmeira, três crianças nuas e desnutridas corriam ao fundo da casa, e um lençol branco que balançava preso ao arame traduziam a poesia da cena. Apesar da paisagem, a beleza feroz de Moema feria qualquer tentativa de castidade. Vestia uma saia de malha fina que balançava levemente junto ao lençol branco. Muitas vezes, o vento forte ameaçava arrancar-lhe a roupa apenas com um único sopro. Moema sorria com as cócegas que a brisa lhe causava nas pernas. De longe, ela avistou José. Tratou de exibir-se. Correu para o mar e afundou o corpo inteiro. Enquanto José distraído aproximava-se, Moema nadou até a borda do mar e levantou-se em silêncio. A saia grudou nos quadris como uma segunda camada de pele. Por baixo da blusa de alça, era possível ver o formato dos pequenos seios. Ao ouvir os passos de Moema, José parou. Moema estava logo atrás do homem, tão próxima de seu corpo que ele sentiu um calafrio na espinha. Desequilibrou-se por conta de uma tontura sintomática. A mesma que sentia todas as vezes em que via Moema.
- José?– Disse ela quase em sussurros.
O homem virou-se. Por um momento quis segurá-la pela cintura sem dizer uma palavra sequer. Desistiu. Segurou-lhe a mão esquerda e lhe deu um beijo seco. O beijo que lhe fez a boca arder como se tivesse encostado os lábios em pimenta.
- Moema – Respondeu.
A menina correu em direção à mangueira, esticou-se nas pontas dos pés, o que lhe fez parecer uma criança desajeitada, dessas que estão quase sempre com os joelhos sujos de terra. Parado, José observava a cena. Olhava os pingos caírem apressadamente do corpo da menina. Escorriam depressa e era como se o corpo de Moema derretesse sob seus os olhares famintos. Moema arrancou uma manga rosada e, imediatamente, mordeu-a como se a fruta fosse a boca do homem amado. Sem perceber, deixou que a cena transparecesse a ousadia forjada. As mãos fraquejavam, tremiam de nervosismo e ela temia que a fruta - metaforicamente, vista como a boca de José- escapulisse ou azedasse no contato imediato íntimo com a língua.
José chegou mais perto da menina, inclinou-se em direção a boca que cheirava a manga e a beijou com vontade. Primeiro, tocou-lhes os lábios inferiores onde o cheiro era mais forte. Quase que de repente, José e Moema estavam entregues um ao outro. Sujos de areia, os corpos ainda estavam cobertos por uma blusa desabotoada e uma saia que ainda cobria as partes íntimas da menina. Quando deu por si, entregue e sem a rédea da situação, Moema gritou. José afastou-se já abotoando as calças com medo de que alguém pensasse que havia forçado a abertura de pernas da menina. Moema parecia assustada. Ainda sentada, afastou-se de José. Ele que já havia abotoado a blusa por inteiro buscou um cigarro no bolso e não encontrou. Nervoso, indagou:
- Então, Moema. Como vão as coisas aqui na região?
- Como sempre- Disse a menina.
- Bem... – Ele olhou o relógio.
- É, bem.- Ela baixou os olhos.
- Está na minha hora. Minha esposa já deve ter estar servindo o jantar.

Moema permaneceu calada. José já estava distante e sua imagem era quase um vulto. Moema levantou o branço e acenou-lhe adeus. José estava de costas. Certamente, não viu. Moema caiu de joelhos no mesmo lugar em que seu corpo rolou junto ao do homem amado. Juntou as mãos e rezou até anoitecer.
José chegou em casa. A mulher estava furiosa. Ele preferiu não provocar. Jantou, deitou-se na rede e olhou o mar. A mulher gritava histérica. Atirou um prato no chão, na tentativa atrair os olhos do marido. José parecia enfeitiçado. Deitado na rede, deixava escapar um sorriso de canto de boca enquanto lembrava-se de Moema mordendo a manga com ferocidade. Longe dali, Moema desejava a morte do homem. José desejava os seios de Moema.

4 comentários:

Seu NOGUEIRA, O líbio. disse...

Nunca tinha passeado por aqui.

Gostei.

Volto logo.

Beijo.

CotiCAFEdiano disse...

... e manga com algumas outras coisas.


bjo.

Eduardo Ferreira disse...

esse instante que deixamos tudo perder ou ganhar em uma pequena escolha de tato

Juliano Motter disse...

Quiçá uma banana ao invés da manga