Diferente da maioria das vezes, naquela noite, Luisa preferiu dormir com as janelas abertas, queria sentir o vento lhe afagar as pernas. O sopro da brisa que assanhava as cortinas, também folheava as cópias dos poemas que deixara pela metade e lhe acariciava as pernas, como as mãos de outra mulher. Luisa dormia um sono leve quando ouviu a porta do apartamento em que morava se abrir lentamente. Ainda de olhos fechados, esticou os braços para tentar alcançar o abajur. Não conseguiu. No escuro, ao levantar-se, de olhos fechados, sentiu a cabeça pesar. Sentada na beira da cama, Luisa balançou os pés em busca das sandálias, derrubou a garrafa de vinho vazia.
Lentamente, caminhou até o andar de baixo e, ainda no escuro, diante do espelho, abafou o grito. Por alguns segundos, estranhou a própria imagem. Não eram apenas os cabelos tingidos de vermelho, era como se estivesse em frente a outra pessoa. Ao acender as luzes, procurou, mas não viu ninguém. Enconstou os ouvidos e as mãos na porta de entrada do apartamento, nenhum suspiro.
Angustiada com a idéia de ter um estranho dentro de casa, abriu a porta, vasculhou o hall do elevador com os olhos, novamente, nenhum sinal. Luisa buscou um copo com água na cozinha e voltou para o quarto escuro e frio. Antes, mais uma vez, diante do espelho gigante da sala de estar, parou e observou as manchas de vinho pelo corpo coberto apenas por uma blusa branca que vira o avô usar algumas vezes nos almoços de domingo. Estranhou, pois, não costumava guardar pertences de pessoas mortas. Luisa levantou a roupa até a cintura e assustou-se com as marcas vermelhas nas pernas. Era como se alguém houvesse lhe apertado com força. Sentou-se na borda do sofá, ainda com o copo nas mãos, e tentou se lembrar do que havia acontecido mais cedo. A cabeça doía muito, decidiu descansá-la no travesseiro.
Lentamente, caminhou até o andar de baixo e, ainda no escuro, diante do espelho, abafou o grito. Por alguns segundos, estranhou a própria imagem. Não eram apenas os cabelos tingidos de vermelho, era como se estivesse em frente a outra pessoa. Ao acender as luzes, procurou, mas não viu ninguém. Enconstou os ouvidos e as mãos na porta de entrada do apartamento, nenhum suspiro.
Angustiada com a idéia de ter um estranho dentro de casa, abriu a porta, vasculhou o hall do elevador com os olhos, novamente, nenhum sinal. Luisa buscou um copo com água na cozinha e voltou para o quarto escuro e frio. Antes, mais uma vez, diante do espelho gigante da sala de estar, parou e observou as manchas de vinho pelo corpo coberto apenas por uma blusa branca que vira o avô usar algumas vezes nos almoços de domingo. Estranhou, pois, não costumava guardar pertences de pessoas mortas. Luisa levantou a roupa até a cintura e assustou-se com as marcas vermelhas nas pernas. Era como se alguém houvesse lhe apertado com força. Sentou-se na borda do sofá, ainda com o copo nas mãos, e tentou se lembrar do que havia acontecido mais cedo. A cabeça doía muito, decidiu descansá-la no travesseiro.
No quarto, Luisa deitou na cama e caiu em um sono leve. Pouco tempo depois, ouviu o ranger da porta, novamente. Levantou-se e correu para sala, a procura do telefone. A porta estava entreaberta. Do lado de fora, um homem ainda jovem, com pouco mais de 30 anos, sério, alto e magro. Luisa aproximou-se, pela fresta, procurou os olhos do homem no escuro. Era difícil perceber os detalhes do rosto dele. Mesmo sem reconhecê-lo, Luisa não sentiu medo. Abriu um pouco mais a porta e descobriu que o estranho tinha olhos castanhos, quase pretos. Luisa sorriu. O homem também sorriu para Luisa. Abraçaram-se como se fossem íntimos. Repelida por um momento de lucidez, Luisa afastou-se. Pensou em chamar alguém da família. Desistiu.
Os olhos castanhos do homem aumentaram a dor de cabeça que sentia. Era insuportavel. Voltou até a porta, observou que ele havia sumido. Desesperou-se. Desceu as escadas correndo. No térreo do prédio, nua, coberta apenas por uma camisa velha do avô, Luisa chorou. Não sabia onde procurar o homem estranho. Sabia que era estranho, mas, sentia como se perdesse alguém próximo. Voltou ao quarto e enconstou a cabeça sofrida no travesseiro. Caiu num sono leve. Sentiu as pernas serem acariciadas. Pensou na brisa que fugia para dentro do quarto. Enganou-se. Virou-se para o outro lado da cama. Sorriu, reconheceu os olhos castanhos, quase pretos, do homem desconhecido. Beijaram-se com ardor, os dedos pesados do homem escalavam as longas pernas de Luisa. Subiram até a cabeça da menina e lhe agarraram os cabelos cacheados com força. Luisa pensou em gritar, mas, sorriu... sorriu e chorou. Ela e o homem desconhecido abraçavam-se como íntimos até adormecerem em um sono profundo.
Pela manhã, Luisa acordou com a cama forrada pelo sol quente que também aquecia os pés dela. Ainda de olhos fechados, virou-se. Ao lado, metada da cama desforrada. Correu para a sala, olhou-se no espelho. Perplexa com o que via, parou. Diferente da noite anterior, os cabelos estavam pretos retintos, vestia uma camisola de seda longa e florida. Na cintura, nenhuma marca, nenhuma mancha de vinho. Soltou um grito agudo de dor, um grito profundo de quem recebe uma notícia trágica, a morte de um parente próximo ou o diagnóstico de uma doença sem cura. Empurrou o espelho que quebrou-se em vários pedaços no chão. Correu para a porta principal do apartamento.
Na esperança de encontrar o homem desconhecido, gritou por diferentes nomes. Lembrou dos olhos castanhos, quase pretos, sentiu a cabeça doer. Acalmou-se, buscou uma garrafa de vinho entre as bebidas que herdara dos pais, bebeu com voracidade. A bebida escorreu pelo corpo de Luisa, entre os seios presos a camisola de seda. No armário do banheiro, buscou os remédios que usava para dormir, engoliu todos de uma vez, escancarou as janelas, deitou-se na cama a espera do sono eterno.