Em um dia claro de verão caloroso, vestiu-se de preto. Abotoou os punhos e a garganta, deixou que o luto cobrisse os tornozelos, o colo e o rosto.
Na estante, os livros jaziam empoeirados. O gato esquálido miava esganiçado, num gemido suplicante, sedento de água, comida, amor e cafuné.
Na casa imunda, suja de pó e tristeza, o sol tímido penetrava as frestas das janelas de vidro escuro. O vento que assanhava as cortinas de renda, soprava o rosto da mulher infeliz, sem brio e dona de uma alma decadente. Os olhos pareciam as únicas partes vivas do corpo. Eram olhos grandes, fortes, fugazes mas, com a nostalgia de uma criança de rua.
Sentada numa poltrona, em frente as janelas, deixava o dia correr apressado, como se esperasse que, de repente, o amanhã não existisse mais. Como se desejasse que o dia fosse coberto pela noite e, por fim, a luz radiante do sol não mais lhe clareasse o rosto. Deste modo, a mulher infeliz diminuiria de tamanho, encolhendo-se até tornar-se pequena e esquálida como o gato faminto, permitindo servir-se, ela própria, de banquete para o animal. No mais, a mulher infeliz parecia desejar a morte discreta, sem sangue ou tiros barulhentos, parecia querer o fim de modo silencioso, onde a carcaça de pele podre virasse pó junto à poeira dos móveis da sala.
por Tainá Falcão
Na estante, os livros jaziam empoeirados. O gato esquálido miava esganiçado, num gemido suplicante, sedento de água, comida, amor e cafuné.
Na casa imunda, suja de pó e tristeza, o sol tímido penetrava as frestas das janelas de vidro escuro. O vento que assanhava as cortinas de renda, soprava o rosto da mulher infeliz, sem brio e dona de uma alma decadente. Os olhos pareciam as únicas partes vivas do corpo. Eram olhos grandes, fortes, fugazes mas, com a nostalgia de uma criança de rua.
Sentada numa poltrona, em frente as janelas, deixava o dia correr apressado, como se esperasse que, de repente, o amanhã não existisse mais. Como se desejasse que o dia fosse coberto pela noite e, por fim, a luz radiante do sol não mais lhe clareasse o rosto. Deste modo, a mulher infeliz diminuiria de tamanho, encolhendo-se até tornar-se pequena e esquálida como o gato faminto, permitindo servir-se, ela própria, de banquete para o animal. No mais, a mulher infeliz parecia desejar a morte discreta, sem sangue ou tiros barulhentos, parecia querer o fim de modo silencioso, onde a carcaça de pele podre virasse pó junto à poeira dos móveis da sala.
por Tainá Falcão
2 comentários:
...Então as estações se revesaram, veio o vento e levou o pó (resto de uma linda mulher infeliz), o levou para bem longe. Até que próximo a um lindo jardim, esse pó já se nutrira o suficiente a fim de tornar a tristeza na mais linda semente. ela nasceu outra vez.
Úrsula Buendía também se tornou miníscula no fim de sua vida.
Mas o que me chama atenção em Úrsula, não em Rebeca, é sua força e determinação. Quase tão forte quanto de Amaranta Úrsula.
García Márquez é genial. Genial.
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