Entrou pela porta da frente. Sem muitos porquês tratou de acender todas as luzes da casa; lustres de plástico velho, velas e seus castiçais semi-usados. Os saltos finos das sandálias ameaçavam, com um rangido nervoso, o azulejo gasto da sala de estar. Tornara-se visível o fato de que esperava por um instante inesquecível nas próximas horas. Momentos aqueles que lhe causavam náuseas constantes e uma insuportável sensação de que seu coração sairia pela boca a qualquer instante. O mesmo coração que lhe batia desesperado no peito, como que para explicar o esplendor da ocasião.
O jantar estava era para dois. Junto ao ar de romantismo ultrapassado e forjado no ambiente, o silêncio inconveniente da espera. Pétalas de rosas vermelhas insinuavam a intenção do vinho chileno e a voz adorável de Marvin Gaye. Apreensiva, ela se olhava no espelho três ou quatro vezes para checar o caimento do vestido sob seu corpo lânguido. Era a segunda vez que se empestava de um perfume francês – um cheiro doce que lhe daria o cheiro antigo da avó - na tentativa ingênua de enfeitiçar o homem amado pelas narinas. Uma ousadia profunda, no entanto infantil. Bem sabia ela, que seu cheiro natural lembrava as crianças perfumadas e bem vestidas das missas aos domingos, um odor angelical que não lhe permitia desenrolar-se daquele ninho de lembranças dos tempos de menina. Detestava pensar em si mesma como uma criança de tranças embutidas e sapatos de verniz engraxados.
Os cabelos escovados lhe caiam nos ombros esquálidos. O hálito cheirava a gengibre e havia uma mancha azul no vestido branco pérola. Antes de aborrecer-se, pensou: - “Deve chegar logo, não acho que vá demorar”. O vestido lilás acentuara melhor com o verde cor de garrafa dos olhos.
Voltava a sapatear pelos cômodos. Um andar lento e, ao mesmo tempo, desesperado. Um ato medíocre. Ridícula tentativa de tornar-se visível ao silêncio. Tentava, absurdamente, mostrar a si própria que estava viva. Viva e apreensiva – era a primeira vez que admitia sua angustia sob a espera. Olha-se no espelho e aparenta estar despida. Frente a si mesma, enxerga apenas a vivacidade de seu olhar perdendo-se sob um pensamento voraz que lhe propõe que ele poderia estar jogado aos braços de uma, duas ou três amantes. Seria menos doloroso acreditar que o rapaz se esqueceu que hoje faria seis meses, desde seu primeiro encontro. Talvez fossem insinuações de sua mente sagaz ou, na verdade, fosse tudo verdade, de fato.
Agoniou-se ao ponto de lavar a nuca e os punhos com água fria. Sentia uma vertigem ameaçadora e um coração pálido e anestesiado pela dor adiantada da perda. Foram minutos persistentes e incansáveis. Sonolenta, acomodou-se como um feto órfão na poltrona dura e desconfortável. O vestido tornara-se amarrotado e não se ouvia mais de seu peito, gritos de desespero. Ouve-se um barulho discreto no hall do elevador. É quando ele, o homem que lhe trará em mãos a sua felicidade, surge de forma sublime, carregando consigo um rosto cansado.
Ela cheia de amor, transbordava em sorrisos. Ele, até mesmo exausto, amaria aquela mulher por inteira, desde seu cheiro de criança sagaz a seu vestido lilás, amarrotado sob um corpo desmilinguido.
O jantar estava era para dois. Junto ao ar de romantismo ultrapassado e forjado no ambiente, o silêncio inconveniente da espera. Pétalas de rosas vermelhas insinuavam a intenção do vinho chileno e a voz adorável de Marvin Gaye. Apreensiva, ela se olhava no espelho três ou quatro vezes para checar o caimento do vestido sob seu corpo lânguido. Era a segunda vez que se empestava de um perfume francês – um cheiro doce que lhe daria o cheiro antigo da avó - na tentativa ingênua de enfeitiçar o homem amado pelas narinas. Uma ousadia profunda, no entanto infantil. Bem sabia ela, que seu cheiro natural lembrava as crianças perfumadas e bem vestidas das missas aos domingos, um odor angelical que não lhe permitia desenrolar-se daquele ninho de lembranças dos tempos de menina. Detestava pensar em si mesma como uma criança de tranças embutidas e sapatos de verniz engraxados.
Os cabelos escovados lhe caiam nos ombros esquálidos. O hálito cheirava a gengibre e havia uma mancha azul no vestido branco pérola. Antes de aborrecer-se, pensou: - “Deve chegar logo, não acho que vá demorar”. O vestido lilás acentuara melhor com o verde cor de garrafa dos olhos.
Voltava a sapatear pelos cômodos. Um andar lento e, ao mesmo tempo, desesperado. Um ato medíocre. Ridícula tentativa de tornar-se visível ao silêncio. Tentava, absurdamente, mostrar a si própria que estava viva. Viva e apreensiva – era a primeira vez que admitia sua angustia sob a espera. Olha-se no espelho e aparenta estar despida. Frente a si mesma, enxerga apenas a vivacidade de seu olhar perdendo-se sob um pensamento voraz que lhe propõe que ele poderia estar jogado aos braços de uma, duas ou três amantes. Seria menos doloroso acreditar que o rapaz se esqueceu que hoje faria seis meses, desde seu primeiro encontro. Talvez fossem insinuações de sua mente sagaz ou, na verdade, fosse tudo verdade, de fato.
Agoniou-se ao ponto de lavar a nuca e os punhos com água fria. Sentia uma vertigem ameaçadora e um coração pálido e anestesiado pela dor adiantada da perda. Foram minutos persistentes e incansáveis. Sonolenta, acomodou-se como um feto órfão na poltrona dura e desconfortável. O vestido tornara-se amarrotado e não se ouvia mais de seu peito, gritos de desespero. Ouve-se um barulho discreto no hall do elevador. É quando ele, o homem que lhe trará em mãos a sua felicidade, surge de forma sublime, carregando consigo um rosto cansado.
Ela cheia de amor, transbordava em sorrisos. Ele, até mesmo exausto, amaria aquela mulher por inteira, desde seu cheiro de criança sagaz a seu vestido lilás, amarrotado sob um corpo desmilinguido.
por Tainá Falcão